Na estrada os olhos se distanciam dos quilômetros percorridos e estes são substituídos pelos que restam percorrer. O que será que eles guardam da estrada finita do tempo?
E o que guardam os olhos em tempos de euforia do amor? O que sobra dos amores depois que se distanciam do reino abestalhado das paixões? E quão belas são as emoções que trazem? Distanciar-se delas é doloroso, mas o horizonte se alarga em ventanias de cores depois que desabam os castelos das primeiras areias.
E quanto a arte? Distanciar-se de um poema que vira música é quase impossível. “Uma parte de mim é permanente; outra parte se sabe de repente.” Como seria misturar o Traduzir-se de Ferreira Gullar com Motivos de Cecília Meirelles? Com certeza daria em algo que olhos nenhum, distanciar-se desejaria.
O que dizer do dom de romantizar a vida? Diria que é mais que arte? Diria que é doar-se inteiro para uma página de difícil tradução. Poetar é quase expor uma alma torcida tentando enxaguar-se do suor do dia; quem sabe vencendo vazios, tampando buracos deixados por descasos ou indiferenças das relações cotidianas.
Marília L Paixão