A Deusa dos dias - BVIW
Viciada em regime, Claudinha não abria mão de carregar na bolsa uns remedinhos para espantar apetite. Quando abria, pisava mesmo na jaca disposta a devorar o mundo. Assim todos os desejos da gula eram alimentados. Pintava um evento e voltava para os dias de contar calorias.
Não demorou e o sexo dos acasos a fez namorada de Valdo que adorava cerveja e a pizza o amava. Massas entravam na lista de suas comidas preferidas. Mas quando Claudinha que o acompanhava nos comes e bebes começou a aumentar a cintura, vinha ele brincando de apertar-lhe as gordurinhas. Assim foi o romance ancorar no ponto final da ladeira abaixo.
Depois conheceu Carlos. Magro como uma pinguela, alegre como os esquilinhos dos desenhos animados e sobretudo, vegetariano. Claudinha passou a comer menos. E como a ex de Carlos era modelo, ela voltou a fazer jejum. As pratadas eram de brócolis, alface e couve-flor. “ O que é que a gente não faz por amor”?
̶̶̶ Você tem comido tão pouquinho. Carlos reparara.
̶ Com você ao meu lado, só como o que eu preciso.
Aos poucos foi trocando os inibidores de apetite por uma fita métrica. Emagrecia. Se embevecia. Olhava no espelho e via uma mulher linda. Medida pela fita, nos braços, nos seios e na cintura. Mas lindo mesmo era Carlos a quem o amor devia. Com ele sentia-se como deusa dos dias.
Um dia a fita caiu da bolsa e rolou pelo chão. Ele a pegou perguntando se era para medir sua cintura fina ou a de um pilão. -- Seu bobo! É para medir seu coração.