Matilde, eu queria que a vida tivesse sido mais branda com nós dois. Queria ser mais prestativo e menos poeta ao desculpar-me pela última vez, mas não sei lutar contra seu desassossego pela vida. Até no seu jeito de acender o cigarro e ir para a janela, eu via acesa a sua escolha sem mim.
Qualquer dia desses, voltarei para casa com o risco de não te encontrar mais e espero que deixe o Mell Renault na cabeceira da cama, pois desejo relê-lo. E você, será que leu? Será que permitiu-se mergulhar naquele outro mundo onde as maravilhas literárias não cessam? Será que não quis saber delas por lembrar-se de mim?
Será que me acha “boring” sem nenhuma das 21 coisas que sua cantora predileta, gostaria de encontrar em um amor? E ousou me trocar por quem Matilde?
Não lhe imagino a se encantar por um empresário, advogado ou médico qualquer com toda sua delicadeza de alma. Nunca sequer lhe imaginei nos braços de outro homem. Bons amantes, sempre fomos, Matilde. E agora quer que eu suporte seu amor por outro?
Não. Não sou parte e nem autor deste romance e espero que ele nem precise de você com malas prontas. Desejo que ele lhe compre tudo de bom e novo. E caso ele não queira o compromisso, por favor, Matilde, não espere que eu queira. Você está me deixando de coração frio e ele não vai combinar com o ontem, mas com o futuro deste bilhete. Que de lá, enterre onde achar melhor, o que venha a sobrar do nosso amor.