Fragilidade - BVIW
O vento frio não pedia licença para invadir as frestas. Um livro sobre a mesa aberto sem marca página, velho de doer, recebia uma ou outra carícia do vento. Uma caixa de grampo, outra de cotonete destoava da mesa. Um café entornado sujando a toalha deixara sua marca seca.
A campainha tocava, mas parecia não ter ninguém na casa, no entanto, serviu para que Sebastiana despertasse com a cabeça rachando de dor ou fome. Ainda assim não conseguiu levantar. Sentia uma fraqueza óssea e muscular, que vinha dando avisos fazia tempo.
- Isso é falta de proteína. Como é que pode não gostar de carne?! Eram as palavras do marido que falecera uns anos antes.
Sebastiana tentou mudar de posição, tossiu com a poeira do chão e ao senti-la nos dedos horrorizou-se. Quanto tempo estava ali caída? Não ficava um dia sem tirar o pó, sem passar o pano...
Quem teria tocado a campainha? Seria a vizinha? Quando tocaria de novo? Precisava arrumar um jeito de fazer barulho quando isso acontecesse. Conseguiria gritar? Ensaiou um pedido de socorro, saiu fraco. Os cacos da xícara caída no chão serviria para ela jogar na janela quando alguém tocasse. Antes disso escreveu com o dedo sobre a poeira: quero viver.