tema: horinhas de descuido.
HORA DE BEATRIZ
Marília L Paixão
Beatriz nunca sonhara com uma vida de princesa, ou de riqueza. Bom, pois nunca a tivera. Mas tinha as horas em que ela atravessava fronteiras e não era dessas em que pessoas desvanecem pelo caminho. Ela nem sabia como ocorria essa travessia, ou se era só um círculo de sensações motivadas pelo inconsciente. Mas “Bia” via-se como Caetano in London, London, atravessando ruas sem medo. Talvez escutasse música demais e chegasse até Drummond onde Minas não havia mais para José, mas para ela sim! Uma coisa ela sabia: Não queria voltar para Bahia.
Eram naquelas horinhas em que Bia fantasiava um mundo diferente. Poderia acordar na cidade que nunca dorme, New York, New York com Sinatra para se sentir como um rainha no topo ou em Paris ouvindo Annita cantando Garota de Ipanema. Só para sentir orgulho eram estes pulos do estrangeiro à própria língua. Não demorava estaria de volta ao mercado central vendendo qualquer coisa que ela mesma não ia querer comprar.
- Aqui senhor, três a preço de um!
- Faço os três a bom preço para a senhora!
Benditas eram aquelas horinhas em que viajava num espaço sideral povoado por canções primeiras que habitassem seu cérebro. Sabia que a realidade também era musicada:
“Cuidado com o viaduto
Cuidado com o avião
Não perde nem mais um minuto
Perde a questão.
Vá trabalhar “Beatriz”
Vá trabalhar criatura
Deus permite a todo mundo
Uma loucura”
Finalizado com VAI TRABALHAR VAGABUNDO , Chico Buarque