Cecília e Benício se conheceram num festival de música. Cecília não cantava, mas encantava e seu entusiasmo na plateia era cativante. Benício amava estar de bem com a vida e o vinho. Decidiu somar a imagem de Cecília aos seus prazeres e isso seria paraíso. E foi essa a vida que ele lhe prometera na primeira cantada. A segunda veio com pedido de casamento e na terceira ela já lhe lavava as camisas no tanque, pois a máquina pifara.
Em sua nova morada de mundo musical desabado, a noção de paraíso distorcida lhe parecia ingrata e sua vã sabedoria parecia esquecida. A fase de desemprego do marido não passava e sua mãe lhe cutucava para sair daquela canoa furada que tinha sido aquele casamento às pressas.
- Filha, eu cheguei a pensar que você estava grávida.
- Que nada! Foi culpa de um pedido bem feito pelo rei da lábia.
- Que bobagem é essa?!
- Ele disse: fica comigo essa noite. E naquela noite eu vi anjos dourados nele e junto a voz da Simone na música “…e não se arrependerá…” Tudo parecia maravilhoso.
- E vai dizer que não arrependeu, minha filha?!
- Só se for dos pés à cabeça.