Tenório sempre fora franzino, não rodeado por muitas moças, mas era alegre; até que perdera o braço direito. Mas perder, perder, de tudo, não havia perdido, exceto na compreensão de Tia Zinha. Quando contara por telefone, no alto dos seus sessenta anos, que havia perdido os movimentos do braço direito, ela havia entendido que a vida lhe separara o braço do corpo assim como no açougue separam a picanha do filé mingnon.
E lá estava ela pensando nele adentrando sua varanda de samambaias sem o braço direito, com uma perna mancando, tamanha a angústia que ele tinha na voz quando contara do acidente.
Quando chegou o dia da benção de ver o afilhado, ele adentrou com um sorriso amarelo, mas com os dois braços firmes no corpo; os olhos de Zinha brilharam de alegria. Os dois braços ali não combinavam com a carinha de coração de galinha que ele trazia no rosto. Suas mãos alcançaram suas bochechas como quando fazia com ele menino.
- Tenorinho, Tenorinho, que belo filho de Deus! Abraça aqui sua Zinha e para de falar que perdeu o braço direito. Você está inteiro meu filho! Mais belo que as ondas do mar.
Tenório riu. Não era atoa que gostava de visitar a madrinha, de mostrar-lhe os filhos, de dali ouvir os sinos que batiam por toda vizinhança. As crianças brincavam de pescar, andavam a cavalo e ainda aprendiam de todas as partes do boi, no açougue da Zinha, que as vendiam com metáforas da vida.