Calçadas lotadas de gente, lotados de pressa. Não se sabe quem tem mais esperança ou se vive a sua espera. Ana Lívia via assim, cada rosto, cada tamanho de corpo em suas formas e cores, tão diferentes e tão iguais. E a cada mudança de eventos no ano, cada mudança de atos e expectativas, comportamentos viravam a esquina.
Não havia mais tempo para fitar o outro; talvez num daqueles esbarrões em que alguns se desculpam e outros vão embora sem olhar direito, poderia acontecer de alguém lhe conhecer e sorrir com prazer. Na maioria das vezes as pessoas se desesperam pelas promoções, pelas buscas do que para quem sem olhar para ninguém.
Será que a vida pisa em brasas enquanto outros pisam em ovos? Isso lá é pergunta para final de ano? Ah! Como é diferente a vida fora dos livros. Ana Livia gostava de divagar. Assim é impossível ela ser fantástica. Melhor tomar cuidado com o piso irregular dos dias, com as noites maldormidas...
Belas eram as filosofias de Pedro Lucas. Segundo ele, o Natal oferece clima de encantamento, como nos filmes. Há de se esquecer os problemas e contradições.
—Já experimentou entrar numa loja de decorações? Um mundo fofo se descortina. É preciso dar essa pausa para a vida.
Se ele pensava assim, o jeito seria sair para comprar-lhe uma caneca de bombons enquanto desejava que ele lhe desse um livro de como nunca perder um amigo. Principalmente se ele for do tipo que curte brilhos natalinos.