Sr. Antunes, como todo cidadão do bem, comprometido com o sustento e bem estar da família, ia bem arrumado para o trabalho todo dia; prosperar era seu lema da lida.
Dias corridos, dias exaustivos, não lhe tiravam o humor. Nem sabia o que eram saudades antigas, e se arrumava tempo para novas amigas, essas eram ocultas como artérias semientupidas do coração.
Menos expressiva, apesar da beleza atrativa, sua esposa distraia o ócio em penteados no salão e fazer clareamentos no cabelo já não lhe dava a velha emoção. Era grata pela estabilidade e família bonita, mas sabia que a felicidade cutucava o vazio da falta de uma profissão que lhe desse alguma importância econômica. Virava e mexia uma sensação de ego dolorida, mas estava certa de não querer revelar nenhuma insatisfação aos filhos ou ao marido e nunca fora de fantasiar besteiras.
E se bastasse o consolo, um poema musicado resolveria seu drama. “Sentimento ilhado, morto, amordaçado, volta a incomodar”.
E não é que a música possuía como título a palavra Revelação?
Marília L Paixão