Lá estava o ponto de ônibus com banco de espera novo. Sentei um pouco ali para sair do carro e estar perto daquela idosa, bem idosa, negra de olhos mais bondosos que cansados. Foi a presença dela que me atraiu. Lá longe vinha um carrinho de picolé que me lembrou a infância. Eu tinha 4 minutos de espera até poder ir para casa. E tome conversa sobre o calor que é como um estranho bate-papo com outro pela primeira vez.
A senhora tinha uma fala calma, um jeito de quem absorve a vida sem vontade de perder nada e sua disposição não era de quem está exausta como a maioria das idosas que anseiam pela aposentadoria. Para minha surpresa, falou que voltava de um trabalho e ia para outro. Fiquei admirada. Devia ser energia de sua essência e vitalidade. Alguma coisa espetacular devia ser ...
Meus quatro minutos passaram mais rápidos que uma música com este título cantada pela Madonna e Justin Timberlake. Pensar que a canção tinha uns 16 anos era prova que o tempo corre muito mais veloz que as histórias de ponto de ônibus. Voltei para o carro. Tudo tem vida. Nem deu tempo para o carrinho de picolé, para os suspiros de pois é ... e uma colega de trabalho também havia sentado no banco. Seu ônibus chegaria no outro lado da rodovia, mas naquele tinha sombra e no outro não. Parte do meu coração tinha pressa em partir, outra parte se perdia em divagações interrompidas ou mortas. Do carro, fechei a porta.
Marília L Paixão
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