Sapinho Boni vivia com seus familiares nos arredores da lagoa Valeriana. Não era dos mais velhos e nem dos caçulinhas. Apesar de curioso, aquela era a primeira vez que se aventurava para o lado dos territórios humanos; empreitada essa que resolveu fazer por sua conta e risco, sem comunicar nada a ninguém. Sua tia Ripela vivia dizendo o tanto que os humanos os desprezavam, como se fossem as criaturas mais repulsivas do mundo.
Depois de uma longa travessia com pulos a perder de vista, Boni chegou até uma linda casinha azul com janelas brancas. Perto dela, vasos coloridos de plantas davam um ar de alegria e graça. Com facilidade, ele pulou até a janela. Sabia que não podia ficar ali, já que ser visto por seres humanos seria um Deus nos acuda.
- Ah! Como tudo era lindo! Devia ser quarto de uma princesa ou de uma menina bem boazinha, daquelas que se lê nos livros.
Sapinho Boni ouviu passos e, sem muito pensar, pulou dentro de uma gaveta entreaberta e prendeu a respiração tentando ficar imóvel. A gaveta não parecia de princesa e tinha diversas tranqueiras cujo nome ele desconhecia. Para o seu desespero, viu a mãozinha da “princesinha” adentrar a gaveta e aproximar-se de uma gilete. Para protegê-la, tentou afastar a gilete para o outro lado da gaveta. Foi quando encostou sem querer na mão dela e tudo que tia Ripela lhe contara se tornou realidade. Primeiro, a gritaria sem fim e uma livrada que ganhou na cara ao pular da gaveta, que lhe deixou zonzo. Pior foi a acusação mentirosa:
- Mãe! Mãe! Tinha um sapo no meu quarto e ele me cortou!
O sapinho Boni demorou para voltar pra casa devido a tontura, ao mal estar e sentia-se descadeirado. Melhor mesmo seria não se aventurar mais por aquelas bandas.
Marília L Paixão