Como abortar uma missão - BVIW

Dona Guiomar conhecia aqueles meninos desde o tempo deles no ventre. Da enorme pança de Juçara, que ficara escondida por alguns meses, nascera Robertinho; franzino que dava dó. Da desbocada Nivalda, prematuro feito uma cuspida não planejada, Juliano berrou vindo ao mundo, A mãe nem teve o gosto de o ter nos braços. Levada por uma tal de eclâmpsia o deixou à deriva; sem pai, sem tios, sem vó, sem vô.

Dona Guiomar deu muita ajuda de comida para essas crianças. Desde cedo aprendera a dividir o pouco que tinha. Juçara acabou cuidando dos dois por um tempo. Talvez por culpa ou por sensibilidade a desgraça da outra. Que mãe merece dar a vida para deixar ao relento?

Agora ali, os dois, quase adultos a discutir a noite. Juliano era mais articulado, cheio das iniciativas.

- Hoje não dá pra agir cada um por sua conta. Is filhos do Berta partem hoje. Ele vai estar no plantão e a mulher vai com eles na rodoviária. A gente vai na casa e pega o que der pra pegar.

- Mas e se ele descobrir que foi a gente?

- Primeiro a gente pega e vai, dependendo do que for, depois pensamos no caminho.

- Eu não vou correr morro acima com coisa pesada!

- Se tiver coisa miúda de valor, a gente não vai precisar pegar essas coisas que dão na vista.

- Tu fica sabendo já, que se não tiver, tu vai pegar o que quiser sozinho. Por mim, abortava essa missão. “Por mim, abortava essa missão” Juliano imitou Betinho. Não teriam onde morar ou o que comer se desse ouvido ao medo dele.
 

Mal sabia ele que vergada próxima à janela que dava para rua, já com as juntas doendo, dona Guiomar pensava em como fazer a tal da missão ser abortada. Depois pegaria aqueles dois e encaminharia para um corretivo.