“Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí; em vez de tomar chá com torradas, me tomou para ti.”
Uma roupa esporte diz muito sobre alguém e seu dia. A linguagem poética, muito ajuda. No caso de Heleninha, a IA resolvia. Foi aí que vestiu a camiseta com I love New York e posou para uma imagem ao fundo com a Time Square contendo uma placa da Broadway.
José Augusto, caminhoneiro recente, formado pela experiência do pai, se encantou com a moça e iria mandar uma foto à altura. Contactou Edu, fera na internet, e encomendou uma foto dele em Londres, atravessando Abbey road com os Beatles.
- Cara, com os Beatles não pode ser ou ela saberá que é fake. Posso te por dentro de uma camiseta deles.
- Então coloca Beatles vibe na camiseta.
Heleninha amou o Beatles vibe. Combinava com os dons do empresário artístico que ele era.
Ficaram de se encontrar depois de ambos voltarem das viagens. Ela estranhou o local do encontro, mas ele justificou que tinha que organizar uma foto de família simples para um outdoor do Banco do Brasil.
Ao chegar no número certo da tal rua, Heleninha quase desistiu de descer do Uber. Mas de dentro do “restaurante do caminhoneiro”, José Augusto de pé, boné virado na cabeça, lhe acenava com o mesmo sorriso lindo da foto em Abbey Road.
Enquanto caminhava em seu encontro pensava nas despesas do salão de beleza e das imitações caras de joias da Wilma.
Tão logo sentou diante ele, em carne e músculos sem glamour nenhum, ouviu ele pedir sem nada lhe consultar, dois executivos caprichados e uma Imperial trincando.
Após uns segundos, com um fio de voz, ela perguntou, talvez só para confirmar o quão tola fora:
- E já foi feito o trabalho com a foto da família?
Sem tirar os olhos da beleza sem fim que ninguém roubaria dela, ele respondeu do melhor jeito que pode.
- Ah, não. A família nóis vamo formar ainda, uai.
Marília L Paixão