A GENTE É O QUE A GENTE É!
A GENTE É O QUE A GENTE É!
Marília L. Paixão
Eu ando investindo em meus pensamentos mais simples e até nos mais bobos. Através deles acabo descobrindo mais dos outros. Na verdade somos todos quase iguais em formatos e costumes diferentes. Quem achar que estou errada não se preocupe, pois também não sei direito. Sabe que escrevo tudo que passa pela minha teia. E por ela passam muitas aranhas, inclusive você! Também passam cobras, passarinhos, sapinhos, flores, beijos, homens, jovens e principalmente sentimentos recém-nascidos.
Continuando minha teoria de que somos quase todos iguais. Vou dizer algo que me digo com freqüência: As pessoas se repetem! Repetem-se até fisicamente. Vejo um alguém aqui que é a cara de outro alguém de outra cidade bem distante. Penso: Nossa! Igualzinho o fulano! Isso acontece tanto comigo! Vejo essas pessoas com caras de outras de estado em estado, de cidade em cidade. Já vi homens, mulheres e crianças...
No ano passado foi tanta a semelhança que cheguei a dizer para essa minha colega de trabalho: - Você é a cara de uma amiga minha!
A única diferença é que ela é bem mais jovem, mas quando ela ficar mais velha ela vai ficar igualzinha a você!
Então essa minha amiga me olhou toda sem graça e me deixou sem graça. Parecia que eu tinha a chamado de velha! Não era isso que eu tinha tentado dizer. E claro, meio gaguejando tentei me explicar:
- Ela é uns doze anos mais nova que eu. Ela deve ser uns... tantos anos... não sei... quantos anos... mais nova que você. Bom, não sei sua idade... mas ela era novinha quando eu a conheci e já tem uns cinco anos que não a vejo, mas ela é bem mais nova que a gente. Mas ela tem seus traços físicos, seu rosto, seu cabelo, seu corpo, ela já era assim meio cheinha mesmo adolescente... ela só não tem essas... essas...essas rugas mesmo que nós temos.. Você me entendeu não entendeu?! Ela sempre foi muito bonita. Ela vai ficar que nem você é hoje. Bonita! Uma senhora bonita!
- Obrigada, Marília.
- Por nada! A gente é o que a gente é!
A GENTE É O QUE A GENTE É ( PART TWO)
Marília L. Paixão
Eu sei que é por isso que prefiro escrever mais e falar menos. Ás vezes nem tenho essa oportunidade de me explicar melhor. Sem falar nas vezes que pioro tudo! Nem vou contar quando falei de uma professora que ouviu tudo. Tinha falado era muito. Tinha falado que era um absurdo a fulana professora de português ter aprovado direto tal aluno que nem o nome escrevia direito. E aí fui falando em mais um monte de alunos que ela tinha aprovado... E fui falando que até aprovação automática tinha limite... E então uma amiga dela virou para mim e disse que eu tinha deixado ela magoada com o que tinha dito.
– Chama ela aqui que eu falo com ela! Tudo que eu falei é verdade quem sabe ela não me explica algumas coisas...
Aquele dia eu não estava boa para ser boazinha com ninguém. Bem fez ela que nem veio conversar comigo. Ficou lá triste me olhando a distância. Fiquei com um pouquinho de peninha, mas poxa! Nem tanto!
De qualquer forma eu fiquei achando que tinha sido má com a professora e não gosto de ser má com professores, pois já somos uma classe muito sofredora. Pensei até se não seria o caso de rezar um pouco. Pedir desculpas pelo menos para Deus já que para ela eu não pedi.
Fiquei olhando a professora com vontade de me desculpar, não por ter falado o que falei, mas por que não queria que ela fosse triste para casa por minha causa. Afinal, a gente já muitas vezes voltamos tristes para casa por sermos insultados ou desrespeitados por algum aluno. Dependendo de onde se trabalha, tem professor que já passa raiva todo dia... Já pensou se naquele dia ela por sorte teve um dia bom de não passar raiva com aluno nenhum e eu, infelizmente justo eu ser a causadora da tristeza dela?! A meu Deus pode me punir que reconheço que falei o que falei mas estou com dor no peito!
AGENTE É O QUE A GENTE É ( PART THREE)
Marília L. Paixão
Uma vez trabalhei numa escola que toda segunda-feira a gente rezava antes de entrar para a sala no primeiro horário.
Além das rezas tinha gente que lia mensagens. Eu ouvia tudo, participava de tudo e ainda mais que adorava todo aquele pessoal (nunca trabalhei em uma escola que tivesse tantos professores inteligentes juntos! tenho saudade deles!) e tinha a maior paciência até com as mensagens mais longas. Dia de Segunda-feira era meu dia de ir de Tênis! Culpa deste horário de rezas! era em pé e de mãos dadas! Como trabalhei lá por uns três anos essas rezas valeram pelos talvez mais quarenta que eu venha a existir. Mas eu gostava, eram professores unidos, faziam greve e tudo! Eu não disse que eram professores dos mais inteligentes?! A gente sentia que a gente era importante, que a gente existia...
Agora vamos lá para mais um exemplo do motivo que preciso escrever mais e falar menos:
Numa noite fui trabalhar, mas ou alunos estavam indo embora. A diretora nos disse que não tinha água na escola e os alunos seriam dispensados, mas os professores teriam que ficar e cumprir o horário. Então a retardada não pensou duas vezes e disse: - uai?! E a gente? A gente não tem sede, a gente não é gente?!
- Tem um filtro que tem água que será suficiente para os professores. Disse a diretora com uma cara não muita satisfeita e uma voz que não deixou dúvida.
- Então ta... Vou querer então um pouquinho que eu já to com sede. Eu já entrei no ônibus com sede. Comi um salgado muito salgado antes de vir para cá!
Queria beber a tal da água para ver se ela matava um pouco do meu arrependimento.
Matar a sede não foi difícil. Difícil tem sido é reconquistar a simpatia da diretora.
Que droga! Desculpem-me! Não sou de xingar à-toa.
Quem sabe um dia ela me perdoa.
Quem sabe um dia ainda aprendo a ficar caladinha com os meus pensamentos.
Às vezes acho que não sou eu quem fala, mas é o pensamento que pula. E pulo depois de dado não tem como desfazer. Precisamos tomar cuidado com o chão em que o pensamento pula. Já pensou se a gente cair de um jeito quase impossível de levantar?
Já pensou você ser levantado por aquela pessoa que você mais temia e ter que muito lhe agradecer? Já pensou se precisar contar até com a ajuda de um inimigo e ficar totalmente a mercê do coração deste? Pois é melhor refletir sobre todas as possibilidades. Tem coisas que não acontecem só em filmes.
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Se você gostou desta crônica, não deixe de ler OS MOTOBOYS DA MONTANHA . Acho que foi a melhor que escrevi! ACho né...mas é melhor ficar caladinha.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 21/02/2008
Alterado em 22/02/2008