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ORGIA CRÔNICA E DESCABIDA
ORGIA CRÔNICA E DESCABIDA
Marília L. Paixão


Acabei de acordar. Todo mundo acorda uma hora, vocês vão pensar! Mas ninguém acordou como eu e ninguém foi dormir como eu! Foi uma noite inesquecível cheia de orgia, mas sem orgasmo. Sabe quando você fica se contendo?! Também não sabia o que fazer com tanta gente em minha cama. Agora vocês devem concordar que nenhum de vocês teve uma noite como a minha. Alguém teve? Já tiveram noite em que mesmo quem você não convida vai para cama com você?! Vai e não te larga e ainda assim quer tirar proveito da situação? Há situações que são complicadas além de delicadas. E o pior, pode lhe arruinar inteira vida. Minha sorte é que não houve flagrante.

E tudo começou do nada! Cheguei do trabalho até um pouco cansadinha. A casa estava silenciosa, tudo mais ou menos no lugar. Tinha o jornal de terça que não tive tempo de ler, já somado com o da segunda. Quando só tenho tempo de folhear, aberto ele fica para eu me lembrar que ainda não o li. Lá estava o do dia aberto em um lugar e o de ontem ainda não aberto em outro… coisas de Marília. Coisas que com certeza enlouqueceriam minha mãe. E foi por causas das mães que a tal orgia começou. Não fui ler o jornal, o que fiz muito bem de acordo com o Fernando Brandi. Também não li revistinhas. Vim ver o que tinha no recanto. Afinal vir no recanto é parte da volta para casa. Lá encontrei a Maria Paula, a Simone, o Fernando, o Sergio e fui lendo o que eles me escreveram e algumas de suas recentes crônicas. Não deu outra!!!

Fui dormir com a Maria Paula e a mãe dela veio junto. Não bastando, a Simone também estava lá na minha cama. Quem mais?! O Fernando e uns 20 bandidos. Não sabia o que fazer com este povo todo na minha cama. Virava para lá e para cá. Para não ter muito problema, resolvi deixar e ficar quietinha. Sem gritos. Sem sim, sem não. Também sem armas, sem munição nenhuma, eu ia fazer o quê? Pensei: vou agir com frieza que assim quem sabe ainda saio viva desta. Uma virgindade intelectual a menos, uma virgindade intelectual a mais. Eu bem que tinha meus 21 anos quando a primeira se foi. Mas agora com esses tantos anos e mais os de experiência, significa que sou capaz de dar conta deste povo todo de uma vez?! Quero não!!!

Bom, se no filme Os Acusados a Jodie Foster deu conta de ser estuprada por não sei quantos e depois ainda sobreviveu no tribunal... Mas e os 20 bandidos? ( Sem falar que filme é filme) Quem dá conta de 20 bandidos num paraíso tropical? As duas moças não causariam muita dor, ou causariam? Mas bandido?!  Quando é que bandido não causa dor??? Fiquei lá pensando que se eu sobrevivesse, acabaria com o Fernando em pessoa! Marília, ex-cronista amadora, uma nova justiceira.

Se bem que quem começou tudo foi a Maria Paula. Fui dormir pensando se as mães cegas inventam beleza para os filhos. Fiquei pensando se elas têm essa necessidade de manter idealizado o mundo delas através dos filhos. Será que elas inventam qualidades para os filhos também? Ou será que é tudo fruto da cegueira? Em seguida eu li a Simone e seus amores do passado. Pensar em amores do passado me toma muito tempo.

Não bastando, o sono estava chegando e caio na besteira de ir ler o Fernando Brandi. Podia bem ter ido dormir só com a Simone e a Maria Paula em minha cabeça. Mas não! Fui ler o Fernando que mandou os 20 bandidos para a minha cama. É muito engraçado este Fernando. Também ele pára para pensar em cada coisa! Vale a pena seguir a linha do raciocínio dele em SELEÇÃO RIGOROSA OU TAREFA DIFÍCIL. Olha que eu aconselho mas não aconselho. Ainda não me recuperei bem da noite e só me sentirei melhor depois de matá-lo.

O que aconteceu mesmo foi o seguinte! Estava meditando no ponto de vista da Maria Paula em TEM MAÊ QUE É CEGA. Achei que elas escolhem ser ou quem sabe percebem mais qualidades na gente do que realmente temos, ou conseguem ver o que não vemos sobre nós mesmos. Eu sei que enquanto jovens, pensamos que mãe é mais bruxa que boa e para as mães os filhos são mais trabalho que prazer. Pelo menos é o que elas nos demonstram ou falam, agora, com os outros são outros quinhentos.

Simone com sua crônica sobre os fantasmas que batem à porta. Desculpe-me! Não é fantasma, é passado... rs.rs...é por isso que deixo meu jornal aberto.(QUANDO O PASSADO BATE A PORTA). Esqueço fácil das coisas e das palavras também. Esta história de passado é algo intrigante. Mexe muito com a gente estes ex-amores que deixam uma porçãozinha de coisas boas guardadas na lembrança. A gente fica tentada em querer ver, tocar, ver se sente de novo.... Talvez o ideal seria ex não possuir cartão de toque-toque quem bate é o frio.

Já pensou se bate num dia que seu cobertor está viajando e te encontra toda frágil?!  Você pode até pensar que é coisa do destino e de repente o sujeito passou ali por passar só para ver como vai sua aparência ou para mostrar a dele. Saber quem está mais conservado ou bem de vida...Coisa do ego masculino mal resolvida. Pensa que é só mulher que tem ego??? (Mas para confundir a gente tem ex-amores de filmes que passam 20 anos sonhando em lhe reencontrar e pedir uma nova chance. No filme você fica pensando que o romance vai dar certo e o filme acaba).

Para trazer qualquer um de volta para a realidade, os 20 bandidos do Fernando para lhe lembrar que um ex-amor pode ser um. Para lhe lembrar que a vida possui mais vilões que poderia imaginar a vã filosofia e que reunir 20 bandidos é o mesmo que ir num rodízio de uma churrascaria. Você vai já sabendo que deseja experimentar de mil e uma carnes. Bem passada, mal passada, sangrando e por aí vai. Se numa churrascaria não falta carne, é no Brasil que ia faltar bandido???

Vê como tudo faz sentido!!! Ainda assim tive uma noite maravilhosa. Agradeço a toda a turma que dormiu comigo, que acordou comigo e está comigo nesta crônica que não existiria sem eles. Para finalizar fica o pensamento de que as mães se transformam em doces depois de velhinhas, que ex-amores podem ser bem-vindos ou de preferência, não vindos, depende do perigo que se corre ou não. Melhor se precaver! Quanto aos bandidos, com armamento ou desarmamento, o principal está sem resolver. Será que o principal bandido é você?

Fui dormir com amor de mãe, que é a felicidade. Fiquei pensando nos outros amores, que envolve a sexualidade e por fim, o que tira a paz e o sossego da vida, a bandidagem! Fala se a vida não é assim? Claro que não me esqueci do Sérgio Lisboa! Ele falou que ia prestar uma homenagem a mim. Pode até mudar de idéia e não prestar, mas que eu dormi feliz com ele, eu dormi.




Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 12/03/2008
Alterado em 12/03/2008
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