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HOJE QUASE ME SENTI HOMEM
HOJE QUASE ME SENTI HOMEM
Marília L. Paixão

Mulheres adoram reparar umas nas outras. Na verdade gastamos um tempo enorme nos reparos mesmo não querendo admitir. Olhamos para as mulheres mais que olhamos para os homens mesmo se for para falar bem ou mal.

Um belo homem não pode tomar muito do nosso olhar que pode nos trazer problemas. Primeiro que tentamos não deixar perceber a nossa grande apreciação. Olhamos com moderação. Afinal, um homem bonito é um homem bonito, e constatar não carece de muitos reparos. Agora, mulher é diferente. Mulher usa muitos acessórios e tem sempre coisas novas para ficarmos observando. E se passa muito perto da gente, a gente tenta até adivinhar que cheiro era aquele. Tem mulher que não se contém e até pergunta.

Mas hoje eu me vi pensando no que os homens pensariam e porque não pensariam. Há visões que devem deixá-los perturbados demais. Perturba até quem não está acostumado.
Lá estava eu indo buscar o pão da tarde para mim e a minha ajudante doméstica. Só tenho este hábito nas tardes em que ela vem. Atravessei a pequena rua molhada pela recente chuva fina.  Já não chovia. O sol estava cândido e eu sem pressa achando bonita a natureza. Nessa rua estreita a calçada é suficiente apenas para duas pessoas magras andarem lado a lado. Ela possui algumas lojas super finas. Deve ter sido de alguma dessas lojas que duas moças saíram bem na minha frente e se puseram a andar comigo logo atrás. Todas duas muito elegantes!

Sem querer, deixei o olho passeando pelas duas moças. Primeiro reparei na altura do salto. E as pernas eram altas também! Senti um estalo de uma lâmpada no cérebro ao reparar detalhes da roupa curta de uma. Será que estava muito curta? Pensei. A outra estava de vestido. Ela era uma pequena morena. Seu vestido era uma malha que parecia muito gostosa, preta e de modelo curto. Tinha um cinto na cintura?! Tinha era um recorte acima do perfeito bumbum mostrando uma tatuagem... Voltei a reparar nas sandálias bem altas; lindas as sandálias! Como uma mulher repara muito na outra, eu demorei em descobrir o que tinha de errado ou o que será que tava prendendo tanto a minha atenção nas duas mulheres. O jeito de elas falarem qualquer coisa que não deu para ouvir revelava certa cumplicidade entre as duas. Como elas estavam de costas para mim eu decidi que não precisava despregar o olho delas até que eu reparasse tudo, tudo, tudo e descobrisse o motivo do estalo.

Uma era loira de cabelos um pouco longos. Pensei: será que era mulher mesmo?! Fui subindo da sandália para as pernas e eram de mulher mesmo! Aqueles passos não eram de travesti. Pareciam até passos profissionais demais. Ao chegar na blusa vi que era uma telinha fininha... Aquelas costas estavam nuas! Aquele corpo estava mal coberto e qualquer homem que estivesse ali no meu lugar não ia querer sair dali de trás delas, pensei. Foi aí que reparei o corpo todo. Parecia perfeito demais! A outra moça do vestido curto... também tinha a parte transparente do vestido nas costas. Aí veio a luz do estalo! Essas garotas são garotas de programa!!! Agora está explicado! Aqui estou eu nesta calçadinha estreita com essas duas moças que mais parecem uma página da revista playboy bem na minha frente! Ao vivo e em cores. Se esticasse o braço daria para tocar!

Realmente, qualquer homem ficaria sem outro lugar para virar se aquelas moças atravessassem o caminho deles e se mantivessem andando bem na reta certinha. Eu mesma fiquei tão curiosa com as tatuagens que elas tinham nas costas. Pequenas e só dava para ver um pedacinho... Mas parecia querer dizer que lá dentro tinha mais. Eu que passo por essa rua trezentas vezes por dia, nunca vi tais figuras. Com certeza não pertenciam a esta cidade. Acho que quando os homens se referem a algumas mulheres como pedaço de mau caminho, elas serviriam bem para ilustrar. Provavelmente se elas não tivessem entrado em um carro e partido, eu ficaria querendo ouvir o que elas estavam conversando para pôr nesta crônica. Fiquei curiosa para saber se elas também tinham belos cérebros. Só faltava isso! Já pensou se por um lado elas fossem a perfeição feminina?! Meu Deus, qual seria o futuro desta humanidade? O que seria de nós, pobres mulheres de beleza comum?:

Imagine se no meu lugar estivesse um dos maridos das cronistas deste site?! Sinceramente, eu não ia querer estar na pele dele. Pensar que quase pedi ao João que fosse na padaria em meu lugar!!! Ele ia perder o rumo e ia voltar para casa sem pão! Será que devo pensar que quando o homem não está no trabalho ou em casa, está no caminho da maldição? Eu que quase enfeitiçada, chamaria aquelas moças fantasiadas de garotas de Ipanema em outro cenário, por belas bandidas, se fizesse parte da novela Duas Caras, estaria apedrejando a inteira raça, apenas sorri. Teria que concordar que possuir um corpo daquele, igual a de qualquer uma das duas seria o sonho de toda mulher brasileira. É por isso que elas possuíam aquele ar de poderosas. Ar de rainhas de qualquer história.

Homens que possuem o hábito de levarem para cama mulheres do tipo daquelas devem enxergar a esposa como a que é maravilhosa apenas para ser a mãe dos filhos deles. É por isso que o maior laço que se consegue dar em um homem é em sua alma verdadeira.
Tirando isso, o mundo possui todas as outras armadilhas. Salve-se quem quiser!
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 19/03/2008
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