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CARTA DE RECLAMAÇÃO
CARTA DE RECLAMAÇÃO
Marília L. Paixão

Querido amor meu. Talvez você não goste dessa carta, mas de qualquer forma acho melhor escrevê-la.
Antes das más novas quero dizer-te, sobretudo que minha vida ao seu lado nestes 4 últimos anos tem sido muito melhor que nos mais ou menos dois anteriores ao nosso primeiro encontro.
Portanto não posso reclamar muito da nossa vida de casados e antes que ela acabe aqui prossegue essa carta de reclamação com o grande intuito de podermos prolongá-la. Como vê, por menos que possa gostar dessa carta ela existe com as melhores das intenções.

Quer saber? Penso até se não deveria ter feito isto antes de ter desistido dos relacionamentos anteriores. Bom Nada de reclamar de ex amores ou esta carta ficará odiável. Eu bem sei como sua expressão fica quando menciono o ex e o outro ex ou qualquer outro. Lembra daquele dia que até prometi não mais mencionar? Pois é! Tem coisas que são difíceis de realizar.

O que tem me incomodado é o seguinte... Estou com uma certa dificuldade em lhe dizer e por isso optei por escrever, mas também essa opção não está facilitando as coisas. Como na época em que namorávamos a distancia, você dizia que eu escrevia bem, tentarei de novo. Quem sabe as palavras no papel ficam mais suaves e por isso você gostava tanto. Ou quem sabe a distancia dava um certo toque de magia ás emoções que eu sentia e por isso você achava tudo bonito.

Há pouco tempo atrás, acho que deve ter uns dois meses, você me confessou que tinha maior dificuldade em responder minhas cartas, pois queria escrever à altura das cartas que recebia. Para isso passava horas procurando frases bonitas na internet. Custei a acreditar que estava ouvindo aquilo, mas deixa para lá. Eu não demorava nada para te escrever o que eu te escrevia. Bastava ter tempo de sentar e o papel era o que estivesse mais perto. O resto saia do mesmo lugar que estão saindo estas palavras agora: de dentro de mim.

Agora eu me pergunto, se você copiava da internet, o que saia de dentro de você? Você me encantava com palavras que não eram suas. Você trapaceou feio! E não venha com o papo de que eu tinha e tenho idade bastante para não me iludir, pois nós mulheres gostamos de nos iludir sim! Nos damos este presente quando se trata de amor. Mas Você ilustrou minhas ilusões bandidamente. Eu teria me iludido menos se não fossem suas mágicas palavras tiradas não sei de onde. Você é responsável pelos sonhos mais simples que eu tive. Acha que suas palavras não me convenciam? Palavras possuem força e beijam a alma em seus espaços mais frágeis. Por que não me disse naquela época que nenhuma das palavras que me escrevia existia em você?

Preciso me acalmar. Melhor continuar essa carta outro dia! Ainda tenho o almoço para fazer. Acho que vou arrumar umas pedras para colocar no feijão e salgar a carne que você gosta tanto.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 11/04/2008
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