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COISAS DE FILHO E PAI ESCRITOR
COISAS DE FILHO E PAI
Marília L. Paixão

Ele disse que se quisesse poderia se tornar escritor que nem o pai.
Decidido sentou-se em frente à tela do computador e abriu uma janela.
Lá pensou em escrever: Minha janela. Pensou que nela escreveria o que quisesse como o pai fazia e também ficaria famoso o mesmo tanto ou mais. Seria o pai famoso??? Seja lá o que fosse ele adorava. O pai se sentia o rei da casa. Ele também queria ser rei. A única coisa que ele fazia diferente dos homens lá fora era isso: ficar sentado em frente à tela e escrever por horas ou por meia hora.

Também ele nunca reparava o pai direito. Seria só por meia hora? Mas tinha hora que ele via o pai de pé na janela. Já tinha visto também ele sentado na janela fumando. Tinha ocasião que ele estava de pé na porta. Dane-se! Ele provaria que poderia fazer o mesmo. Iniciaria com um parágrafo. Pensou, pensou e escolheu a primeira letra: H. Passou um tempão matutando e nem se lembraria o que teve espaço em sua cabeça. Lembrou-se de todas as meninas delicadas que conhecia e também das mais complicadas. Alguma delas lhe daria uma boa inspiração. Escritor precisa disso, não precisa?

Se bem que ele não conseguia imaginar o pai inspirado. O que inspiraria aquele velho?! Talvez os maços de cigarros que um dia o mataria? Aquela era a única droga que o cara usava. Droga de antigamente. Breve nem cigarro comum existirá mais...
Breve ele estará morto. Precisava escrever logo e provar para o pai que ele não era aquilo tudo que ele se julgava ser. Que ser aquilo qualquer um com disposição seria. Até ele! Ele que o pai fazia tão pouco caso. Ele que o pai só ferrava aos berros silenciosos como se ele fosse um nada que nem palavra merecesse.

Lá estava sua primeira grandiosa letra. Ele ia ver só com quantos paus se fazia uma canoa não furada e que seguiria longe, bem longe o seu fantástico destino. Viajou, viajou por terras nunca imagináveis e estava maravilhado com suas descobertas e desempenho. Depois cansado levantou-se e foi até o maço de cigarros do pai. Pegou um e chegou a colocar na boca. Pegou uma caixa de fósforo e fingiu acender um. Saiu com o cigarro apenas molhado nos lábios e abandonou a sala.
O pai estranhou o computador ligado com uma janela aberta.
Sentou-se, colocou os óculos e leu lá na grande página a única coisa escrita: Hora do lanche.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 17/04/2008
Alterado em 18/04/2008
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