O AMOR TEM SEUS BRIOS
O AMOR TEM SEUS BRIOS
Marília L. Paixão
Acho melhor começar pelo princípio de que nenhuma mãe é má por querer, mas talvez simplesmente, por mãe, não desejar ser. Imaginem uma mulher com o seu querer podado. Imaginem uma mulher infeliz sem poder se livrar da infelicidade que a rodeia ou lhe pesa no ventre? Conseguem imaginar isso? Conseguem imaginar uma mulher desesperada no meio do mato dela mesma? Uma mulher sentindo que a própria vida já não lhe interessa se não lhe sobra sequer os gostos mais comuns pelo que quer ou não quer ser, pelo que deseja ou não ter, pelo que abre as portas e deseja ou não boas-vindas?
As mães que são más são vítimas da infelicidade delas mesmas. São vítimas da falta de amor ideal e depois não sabem dar isso. Apanham da vida e depois batem não só roupas antes de as estenderem no varal. Se quase apanham do marido, batem nos filhos. Se não conseguem bater no marido, batem nos filhos. Quando machucam os filhos ficam com os nervos mais ainda à flor da pele. O desamor vai propagando. Essa mãe não foi aquela esposa que ouviu muitos “eu te amo” e nunca soube o que era amor, I love you. Essa língua não chegava ao planeta sem luz.
É neste planeta que as mães que não são boas nascem. Não programaram serem mães logo depois de um filho e outro. Haviam crescido tendo os sonhos comuns de todos os mortais. Sequer imaginavam que existia um primeiro mundo, um segundo e um terceiro. O mundo para elas era o que sabia de uma casa com uma mãe, um pai, e um terreiro. Depois a casa vai diminuindo com os irmãos e o terreiro vai aumentando com os passos dados.
Chega o dia da menstruação em que vira moça e lhe arrumam um moço para casar. Lá fora o verde do milharal, as vacas nos pastos distantes e as galinhas para dar o milho. Pode aprender a costurar e saber que a bebida que presta é água, leite e café. Também tem o pão e o vinho rico da bíblia. O resto poderia ser a cachaça do marido que sumia a cavalo e voltava bêbado dos bares. O que foi feito dos sonhos ou de uma ou outra bela história? Quais eram mesmo as histórias da bíblia sagrada?
Breve já não tem graça a tal da igreja e os discursos longos do padre. A vida parecia a mesma coisa infeliz de sempre e nada melhorava com mais um filho para criar, lavar, alimentar, costurar. As mães infelizes possuem muitas perguntas sem respostas e se analfabetas nem imaginam certas perguntas. São consumidas pela amargura das tarefas caseiras infinitas. Um filho engatinhando e outro na barriga. E o outro já quebrando coisas, e o outro perguntando coisas que não saberia responder. Então a mãe grita! Grita, grita e o filho se afasta amedrontado ou volta com outras perguntas e então apanha. E se a mãe ouve os gritos de um filho batendo no outro ela aproveita e bate nos dois! Vão os dois chorar em cantos diferentes. Quem mais quer coro hoje?! Ela pergunta e ninguém responde. Acha então que mais ninguém quer e volta a se concentrar em sua infelicidade. È por isso que sou a favor das mães optarem por terem ou não seus filhos. Este negócio de que só por que engravidou vai ter que carregar o fruto do coito para o resto da vida é muito pré-histórico.
As mães modernas que são más são ainda mais complicadas de entender. São frutos de uma violência maior. A violência urbana. A violência atual cuja cara nem é preciso falar muito dela. A violência do sexo fácil e da droga solta. Já pensou se possuem a cara de um cortiço do Aloísio Azevedo. Sabemos que o que não existe é uma favela tipo a de Duas Caras. Favela eu acredito é na que vive de tiros ou de tiro ou não tiro. Tiro ou não tiro a vida daquele outro ali? Será que amanhã terei que matar algum trouxa para faturar bem ou terei a sorte de apenas assaltar com tranqüilidade e astúcia? Claro que existem pessoas do bem em toda comunidade. Assim como existem vilões em toda sociedade.
E não vamos nos esquecer das jovens que engravidam já tão mal intencionadas...
Sem falar das mães fúteis. Sem falar das mães de ricas peles e pobres almas. Sem falar das mães que não amadurecem nunca e jamais se tornam mães verdadeiras. Nenhuma mãe que não amar grandemente seu filho consegue amá-lo de corpo e alma por mais biológica que seja. Essa mãe o alimenta com muitos pesares. Essa mãe lhe cobra por tudo que faz ou deixa de fazer por ele. Essa mãe o tortura por toda angústia e sacrifício que venha a fazer pelo filho. Vive lhe dizendo que este não era pra ter vindo e que ela não era para ser mãe de novo. Quantas vezes se sacrificaria para a mesma luta e nenhuma recompensa? Que castigo de Deus era aquele?! Quantas vezes o filho tem que ouvir que ele é um castigo trazido por Deus? – Você é a minha cruz meu filho! Que cruz, meu Deus! E eu pergunto: de onde surgem os filhos que um dia desejam matar os pais? Parecem que estes surgem mais da classe média! Vai saber! São frutos do ódio, da ganância e poder? São frutos das drogas já transadas como uma farrinha diferente?
Será que as mães más são em sua maioria pobres? Creio que não! Mas na realidade brasileira creio que sim! A maioria brasileira já é pobre sendo mãe ou não. E agora ainda tem essa questão da raça cada vez mais distinta e estão dizendo que somos uma maioria negra, a maioria brasileira. Mais fácil dizer então que a maioria das mães que são más são pobres? Pobres de tudo! De cultura! De bens materiais! De liberdades sociais e de espaço empregatício. São pobres até de saúde. E principalmente pobres de sonhos. E de acordo com a cultura machista já somos mais pobres por sermos mulheres.
Temos que trabalhar muito mais horas, muito mais horas para um salário decente.
No entanto há tantas mães boas produzindo filhos que não são bons. No futuro as mães que não são boas se misturarão com as mães de diferentes camadas sociais. Claro que as mães que não são boas já estão mostrando as caras mesmo na classe média. Os ricos conseguem ocultar as coisas. Quando não numa clínica de tratamento, usam outros recursos e a coisa foge do nosso conhecimento, mas cada vez mais tem sido trazido um ou outro caso pela imprensa... Quanto aos pobres... Esses não têm para onde ir e acabam tropeçando em nossos narizes ou jazendo em frente aos nossos olhos com os seus defeitos escancarados. Tudo coisa humana comum que ninguém desacredita. E de tão comum quase não mais liga.
Eu sei é que os filhos que não são bons mesmo vindo de mães boas são os que mais me preocupam. Estes são mimados demais. Muitas mães boas são boas só com presentes e outros artifícios do mundo atual. Muitas vezes as mães boas de hoje não estão dando conta de educarem direito. Estão se transformando em más até as mães que possuem de tudo para serem boas? Será que não está alimentado com roupas caras um futuro nazista? Será que não está nutrindo de armas um futuro chefe de quadrilha? Ou quer que ele tenha a cultura de um Lula? E quanto custa a cada cidadão a cultura que ele está adquirindo hoje? A cultura que finge que enxerga o povo, mas lhe nega a verdadeira educação e cidadania? A cultura de quem tem olhos, mas não vê, tem ouvidos, mas não ouve?
Será que o seu filho pode ser um futuro Nardoni nos olhos da humanidade? Pode ser um outro austríaco que faz netos na própria filha? Pode ser um ser frio que fere com ferro quente a pele de uma criança? Poderá por fogo em índio ou maltratar empregadas domésticas? Poderá atropelar e não socorrer um transeunte? Poderá entrar num cinema e brincar com sua arma de fogo? Será que breve alguém estará dizendo: diga-me o tanto que é mansa a vida que seu filho tem e lhe direi as chances que ele terá de ser uma grande pessoa?
Moral da história: Cuidado com o que você dá ao seu filho! Amor não é uma coisa, nem duas e nem três. Amor é uma verdadeira lição de vida. E se você não der amor do jeito certo, ele pode tentar procurá-lo em esquinas erradas. O amor possui ciladas. Tem o bom e tem o doentio. Tem o amor que ajuda a crescer. Tem o que nos leva a padecer.
Tem o que floresce. Tem o amor da semente boa. Amor só serve se vem sem amargura.
Amor tem que vir gratuitamente sem ódio, sem palavras duras. Amor não lhe chama de cria inútil e nem lhe arrasta para baixo. Amor não vê qualidades nos genros maiores que nas filhas. Amor não abandona a esposa e canta a namorada do filho. O verdadeiro amor tem seus brios.
Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 20/05/2008